Voltar
“Precisamos reduzir a produção de lixo”
Segunda - Feira, 08 de Junho de 2020
Entrevista com o fiscal ambiental da Secretaria de Meio Ambiente, Flávio Laureano, e com a professora da UFSM e coordenadora do projeto Recicla Frederico, Aline Ferrão Passini
Responsive image
Em 2016, a Prefeitura e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), campus de Frederico Westphalen firmaram uma parceria com o objetivo de contribuir com o gerenciamento de resíduos sólidos do município. De lá para cá, muitos parceiros, como universidades, entidades, Organizações Não-Governamentais (Ong’s), entre outras, se uniram neste mesmo propósito, buscando melhorar ainda mais a qualidade de vida da população.

Em entrevista, o fiscal ambiental da Secretaria de Meio Ambiente, Flávio Laureano, e a professora da UFSM, campus de Frederico Westphalen e coordenadora do projeto Recicla Frederico, Aline Ferrão Passini, falam sobre as dificuldades impostas pelo período de isolamento social trouxe à gestão de resíduos, sobre o aumento no descarte de materiais de higiene pessoal e os cuidados que a população deve adotar ao descartar lixo com a retomada das atividades.



Ascom: Qual foi a mudança que acarretou em maiores consequências à gestão de resíduos sólidos de Frederico Westphalen nesse período?

Flávio Laureano: No início, o cenário da quarentena fez com que o Centro de Triagem do Aterro do Consórcio Intermunicipal de Gestão de Resíduos Sólidos, o Cigres, fosse fechado devido ao risco de contágio entre os colaboradores. Com isso, o resíduo domiciliar do município, assim como dos demais integrantes do consócio, foi destinado diretamente para a célula de aterro, sem a devida separação. Nessa situação observamos mais uma vez a importância da coleta seletiva para o nosso município, visto que se a separação fosse realizada de forma correta por grande parte da nossa população, somado ao armazenamento de plástico, papel, papelão (lixo seco) em suas residências nesse período, poderíamos destiná-lo após a reabertura do setor de triagem trazendo retorno financeiro para o consórcio e à Frederico Westphalen com a venda dos mesmos posteriormente.


Ascom: Em relação a quantidade de resíduos gerados nesse período, se teve alguma alteração significativa?

Flávio Laureano:Quanto aos parâmetros quantitativos, pôde-se observar uma redução na geração de resíduos devido ao fechamento ou redução de atividades comerciais e industriais em nosso município. Somado a isso, a redução da população flutuante de universitários e trabalhadores de outros municípios da região. Como exemplo, podemos citar os vidros descartados nos ecopontos distribuídos pela cidade que, em sua grande maioria, são oriundos de bares, pubs, casas noturnas e de eventos que até o momento não tiveram seu retorno autorizado pelo poder executivo estadual e municipal. Por outro lado, a quantidade de resíduos sólidos gerados nos domicílios e hospitais terá um acréscimo, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Estes dados indicam um aumento entre 15 a 25% para resíduos domiciliares, já que as pessoas estão mais tempo em casa por conta do isolamento social, e a geração de resíduos hospitalares em unidades de atendimento à saúde aumentará de 10 a 20 vezes, devido ao aumento de pacientes nas unidades.


Ascom: Quanto ao tipo de resíduos gerados nesse período, houve alguma alteração?

Aline Ferrão Passini: Devido à mudança de hábitos, produtos de higiene e limpeza foram e estão sendo mais consumidos pela comunidade em maior quantidade. Assim, embalagens desses produtos e principalmente máscaras descartáveis são resíduos que estão sendo gerados em maior quantidade. Devemos dar destaque ao descarte das máscaras descartáveis usados pela comunidade que devem ser devidamente acondicionados em sacolas plásticas, bem fechadas, e enviadas junto aos rejeitos sanitários. Esses cuidados são essenciais para que a saúde dos profissionais da limpeza, coleta e reciclagem sejam preservadas. Destaca-se que, no caso das residências que possuem casos confirmados ou de suspeita de Covid-19, os resíduos não devem ser entregues aos trabalhadores envolvidos diretamente na coleta seletiva para que não haja risco de contaminação para esses profissionais. É recomendado que esses resíduos permaneçam armazenados em um local separado durante um período de tempo. Como ainda não se tem conhecimento sobre quanto tempo o novo Coronavírus pode ser transmitido por meio do contato com esses materiais, não é possível determinar um prazo exato para a quarentena dos resíduos sólidos com essa origem.


Ascom: Quais cuidados devemos ter daqui para frente, com a retomada das atividades?

Aline Ferrão Passini: Uma mudança necessária que se deve incentivar é a busca pela prática da diminuição da geração dos resíduos sólidos e a separação desses materiais, buscando-se o que pode ser aproveitado e o que deverá ser classificado como rejeito. Precisamos reduzir a produção de lixo. Esse esforço deve ser de todos e utilizar parte do tempo nesse sentido será de grande valia para o funcionamento da cadeia produtiva de resíduos sólidos, uma vez que a primeira etapa é representada pela geração que ocorre dentro de nossas residências, indústrias, comércio, entre outras. Cabe aqui ressaltar que ações de saneamento ambiental estão diretamente ligadas a menores gastos com ações de saúde pública, uma vez que diminuem as ocorrências nos casos de doenças, sobretudo aquelas de veiculação hídrica, infecções, dentre outras, além de evitarem a utilização de estruturas de saúde. Precisamos compreender os efeitos dessa crise nas diferentes dimensões da sociedade para nos prepararmos para a retomada dos compromissos assumidos, em nível global, através dos compromissos do desenvolvimento sustentável.
Fonte: André Piovesan/Ascom
FOTOS